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Para mais tarde recordar!
A chegada a Parada de Outeiro foi feita por etapas. Sei que quando eu lá cheguei, já o Acácio tinha arranjado maneira de berbermos um copo de vinho fresquinho, ali mesmo, no meio da rua. A ideia pareceu tão refrescante que afinal fez-se negócio... compramos o garrafão à senhora! Com jeitinho, vinha também o presunto, já que o mel, foi negócio fechado! Também conseguimos autorização para acampar num lameiro ali mesmo ao lado e que era valorizado por uma fonte praticamente anexa. E finalmente pudemos depositar o lixo que trazíamos nas mochilas!
Foi só no final, quando as tendas já estavam montadas, que descobrimos que aquele não era de forma alguma o melhor local para o efeito... se o piso da noite anterior era irregular, este nem se fala!!!
Como ainda era cedo, cinco de nós tivemos ainda coragem para fazer mais 2 km, ida e volta, até Outeiro. Parada é uma localidade tão grande que simplesmente nem café tem. Cervejinha fresca, só mesmo Cristal mas diz quem bebeu, que pareceu o paraíso! A minha Coca-cola, também não estava nada mal (alguém tinha que os conduzir a casa!!!)! Mandamos embrulhar, isto é, engarrafar oito cafézinhos e pusemo-nos ao caminho para jantar. Jantar jantamos, mas os panadinhos que sobraram do dia anterior já tinham voado! É que não chegavam para todos e para não haver chatices, aproveitamos a vossa ausência e fizemos o sacrifício... têm-me cá uma lata estes artistas!!!
Barriguinha cheia, xixi, cama! Mas não é que quando vou à casinha descubro que tenho o meu rabiote completamente pipocado!?! Ainda perguntei se a mais alguém tinha acontecido o mesmo mas parece que a única vítima fui mesmo eu! Valeu-me a pomadinha da Helena... felizmente, após ter regressado à civilização, da mesma maneira como as desgraçadas das borbulhas apareceram, desapareceram (acho que devia ter corrido o risco de uma indigestão e ter tomado banho...).
A noite foi menos fria mas bastante mais húmida e sem dúvida nenhuma bastante mais movimentada. Tivemos direito a música de fundo: então não é que dois canitos se puseram a ladrar à desgarrada a meio da noite!?! Juro-vos que durante um bom bocado só pensei em matar os animais! Bem, também me passou pela cabeça que podiam estar soltos e vir visitar-nos a qualquer momento...
A manhã acordou bem mais fria e desta vez não tivemos o sol a visitar-nos. Aliás, a dada altura havia sol em todo o lado menos no nosso lameiro! A viagem era agora de regresso a Pitões, mas ainda tivemos que esperar pelo padeiro no centro da aldeia (e eu aproveitei para dar os parabéns à menina Hermínia, logo pela manhã!) e de novo de mochilas aviadas lá nos fizemos ao caminho.
Paramos em Fajã do Lobo a apreciar a natureza e tirar algumas fotos.
Tivemos sorte, caminhamos sempre pela sombra das nossas amigas árvores! Mas os mosquitos, esses malditos, não nos largaram! Cheguei ao cúmulo de andar de repelente aberto mesmo depois de muitas aplicações.
Fizemos um lanchinho que nos soube a figos: pão fresquinho, vinho que tinha sobrado e um paiozinho que o Acácio tinha reservado! Este homem não existe!!!
Mal sabíamos nós o que nos esperava! Bem, saber até sabíamos mas depois de tanto cansaço na pele, a coisa não foi nada fácil... a última subida foi muito exigente mas superamo-nos a nós próprios, não foi pessoal?!?! Quando já víamos a aldeia no horizonte, os nossos olhos brilharam... e paramos para almoçar. Nunca umas sardinhas em lata me souberam tão bem e depois, foi só mais um tirinho!
Uns tremoços e umas cervejinhas frescas foram o nosso merecido prémio!
Tivemos ainda tempo para uma visitinha ao que resta do Mosteiro de Santa Maria das Júnias, o que significou uma nova descida íngreme e consequente subida, mas agora sem as mochilas a pesar nas costas! Refrescaram-se os pés no ribeiro onde os monges saciavam a sede há 800 anos, diz o Alcino, e onde eu ainda tirei uma sonequinha!
Já de carrinho e de regresso a casa, tivemos a visão deslumbrante da imensidão montanhosa que nos serviu de lar estes três dias. A Carla divertiu-se imenso a gastar o que lhe restava de bateria na máquina fotográfica e nós as "teens", fizemos a viagem a ouvir Katie Melua (obrigada Helena!).
A despedida é sempre inevitável mas nunca desejada. Paramos duas vezes, uma num Nosso Café à beira da estrada, e outra na área de serviço e aqui, teve mesmo que ser: até à próxima companheiros!
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Esta nova música - Barbie Girl dos Aqua - foi-me lembrada pela Lígia nesta caminhada. É que eu e ela somos parecidas neste aspecto: uma trauteia uma música e logo a outra acompanha. E como esta veio à baila e me trouxe boas recordações... ei-la! Xana e Sílvia, lembram-se?! No Academia, penso eu!
Esta foi de três dias, com oito dos Passageiros da Eternidade. As notícias davam conta de uma grande área ardida mas felizmente por onde passamos, não vimos sinais da catástrofe.
Saímos dia 31 de Agosto, 5ª feira, divididos em dois carros: o das teens (bem, não tão teens como isso... mas pronto) e o dos crescidos. Num misto de ansiedade e alguma preguiça por parte das "teens", fizemo-nos à estrada. Pela primeira vez, parecia que tínhamos todo o tempo do mundo pois quando pusemos as mochilas às costas já o calor apertava e bem! Pudera, eram já 11 horas! Apesar dos avisos da gente da terra, querendo evitar que ficássemos doentes, deixamos Pitões das Júnias. Para quem como eu esperava uma caminhada mais macia (já que as mochilas estavam muito mais pesadas que o habitual), bastou a primeira hora para mostrar o contrário. A hora das refeições foi desta vez muito mais desejada... queríamos aliviar o peso das costas e as latas de pêssego massacraram o meu rabiote durante um dia!!! A primeira refeição foi deliciosa! O Acácio brindou-nos com uma saladinha de bacalhau feita por ele mesmo (e foi aqui que nos fomos apercebendo das qualidades domésticas dos cavalheiros) altamente apreciada à sombra de umas árvores que pareciam ter sido ali colocadas de propósito, para nós.
O sol apertava mas o caminho esperava-nos e por isso lá continuamos, protegidos pelos chapéus, bonés ou lenços. Tivemos quase sempre como companhia a capela de S. João, construída no topo de uma fraga (num dos pitões, diria eu!) tão alta, tão alta, que a mesma se torna visível de ínfimos ângulos e locais. A romaria lá acima deve ser algo digno de se ver!
E o sol continuava a apertar... e as reservas de água a decrescerem... e onde devia passar água só víamos secura... e o sol teimava em aquecer... e a busca por água potável tornou-se uma obsessão.
O nosso destino eram os carris (o tecto do mundo em Portugal, diria eu!) e numa das mais agrestes subidas que já fizemos, acontece o impensável: um dos rapazes perde momentâneamente a capacidade para continuar. Nesse momento não sei o que mais me doeu, se o sol que me queimava a pele, se o cansaço misturado pelo suor causado pela subida íngreme, se a cor da cara dele... mas como por cada coisa menos boa que acontece a alguém outros ficam a ganhar, todos tivemos um merecido descanso! Ficou comprometido o nosso objectivo, é certo, mas mais importante que alcançar um objectivo, é saber contornar as dificuldades! Acampamos por isso num outro local, um pouco mais lá à frente, com a certeza de que era necessário encontrar água. Seis da tarde e montamos as tendas num descampado que nos dava a imagem correcta do que ainda teríamos de subir para chegar aos carris.
Conseguimos encontrar umas poças de água, o que nos permitiu alguma tranquilidade. Fervemos uns litros e engarrafámo-la. À sede já não morreríamos! Ficou o banho por tomar, mas as toalhitas fazem milagres!!!!
Depressa o sol se retirou e o jantar foi já em lusco-fusco, numa descontracção e alegria que só estas situações permitem. A temperatura começa então a diminuír drasticamente e o meu kispo, que já tinha servido de motivo de troça, soube-me pela vida!
A noite sentia-se gélida (ainda bem que não chegamos aos carris, pensei eu!) mas ainda tivemos tempo para namorar a lua e as estrelas que se mostraram simplesmente... divinais!
E não tivesse sido a minha mantinha (mais um motivo de chacota), alguém teria morrido de frio...
(continua)