sexta-feira, agosto 05, 2022

DO PÓ VIEMOS, AO PÓ VOLTAREMOS

No dia de hoje mas há 4 anos, dia da Nossa Senhora das Neves, diante dos meus e de muitos outros olhos, o teu caixão desapareceu. Deu lugar a uma outra caixa, bem mais pequena, que alguém que te ama guardou.

Eu guardei-te numa outra: aquela que trago dentro do peito.

 


quinta-feira, junho 16, 2022

SANTOS POPULARES XV

 

A tradição já vem longa
E eu gosto de rimar
Por isso estas palavras
Aqui no Auxiliar

Retomam-se os arraiais
Com toda a dedicação
Não faltem os manjericos
E as sardinhas no pão

Está um calor do carago
E ainda nem é verão
Que esteja também assim
Na noite de S. João

Em Lisboa já foi festa
No Porto há-de chegar
Faz lá também tu uma rima
Ao teu Santo Popular


segunda-feira, junho 06, 2022

À PROCURA DE SENTIDO

Não sabe explicar o porquê mas sempre que por ali passa o seu olhar é para aquelas paredes em ruínas.

Que histórias têm elas para contar? Que silêncios se ouvirão do seu interior agora exposto aos ruídos do presente? Será que quem lá morou foi feliz?

Que energia é aquela, afinal, que atrai tanto os seus olhos como a sua mente?

A verdade é que tudo ao redor daquela que outrora foi uma casa, um lar, é maravilhosamente calmo, harmoniosamente belo. E isso faz com que fantasie em como seria preencher aquela área circunscrita por tão bonitas pedras, ainda que gastas pelo tempo.

Foi naquela terra que os seus avós construíram a sua morada. Uma vida que nunca conheceu mas que lhe é familiar, pelas histórias que ouve e pelo que a imaginação lhe permite visualizar. A avó que de facto nunca viu, a não ser no retrato pendurado em casa dos pais, mas de quem sempre ouve dos outros rasgados elogios e com quem dizem ter semelhanças. Engraçado, pois quando observa o dito retrato, consegue ver o mesmo olhar triste e perdido que costuma ver ao espelho. O avô, que tão amigo foi na sua infância, de quem tanto gosta e de quem tem tantas e tão boas recordações. O avô de quem tantas saudades tem.

Mas às vezes as saudades também são do que nunca aconteceu, das pessoas que nunca conhecemos, da vida que nunca vivemos. E às vezes as saudades toldam-nos a visão, para além do coração. Às vezes as saudades não nos deixam pertencer a lado nenhum.

Talvez seja apenas isso, saudades de um passado inexistente mas que lhe faz falta. Um passado que seja um porto de abrigo no futuro, porque no presente… bem, no presente a tempestade de pensamentos é constante e o agitar dos sentimentos não permite que ancore.

Talvez seja por isso que aquelas pedras lhe são tão chamativas, pois apesar da passagem do tempo continuam firmes, agarradas àquela terra que tanto queria sua.