Não sabe explicar o porquê mas sempre que por ali passa o seu olhar é para aquelas paredes em ruínas.
Que histórias têm elas para contar? Que silêncios se ouvirão
do seu interior agora exposto aos ruídos do presente? Será que quem lá morou
foi feliz?
Que energia é aquela, afinal, que atrai tanto os seus olhos
como a sua mente?
A verdade é que tudo ao redor daquela que outrora foi uma
casa, um lar, é maravilhosamente calmo, harmoniosamente belo. E isso faz com
que fantasie em como seria preencher aquela área circunscrita por tão bonitas
pedras, ainda que gastas pelo tempo.
Foi naquela terra que os seus avós construíram a sua morada.
Uma vida que nunca conheceu mas que lhe é familiar, pelas histórias que ouve e
pelo que a imaginação lhe permite visualizar. A avó que de facto nunca viu, a
não ser no retrato pendurado em casa dos pais, mas de quem sempre ouve dos
outros rasgados elogios e com quem dizem ter semelhanças. Engraçado, pois
quando observa o dito retrato, consegue ver o mesmo olhar triste e perdido que
costuma ver ao espelho. O avô, que tão amigo foi na sua infância, de quem tanto
gosta e de quem tem tantas e tão boas recordações. O avô de quem tantas
saudades tem.
Mas às vezes as saudades também são do que nunca aconteceu,
das pessoas que nunca conhecemos, da vida que nunca vivemos. E às vezes as
saudades toldam-nos a visão, para além do coração. Às vezes as saudades não nos
deixam pertencer a lado nenhum.
Talvez seja apenas isso, saudades de um passado inexistente
mas que lhe faz falta. Um passado que seja um porto de abrigo no futuro, porque
no presente… bem, no presente a tempestade de pensamentos é constante e o agitar
dos sentimentos não permite que ancore.
Talvez seja por isso que aquelas pedras lhe são tão
chamativas, pois apesar da passagem do tempo continuam firmes, agarradas àquela
terra que tanto queria sua.
4 comentários:
Uma delícia escrita por mãos sensíveis e ditada pela doçura do coração ❤️
Beijinhos, Lurdes.
Suzete, vindo de ti este é um super-mega elogio! Obrigada ❤
😘
Parabéns Lurdes, belíssimo texto.
Já que começaste... Não pares SFF. Beijinho
Obrigada.
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