Chorava por tudo e sobretudo por nada, quando a vida estava
boa e quando estava lixada. Quase da mesma forma como nos queixamos do clima:
ora porque está sol, ora porque está neblina.
Chorar faz bem à alma. – dizia sua mãe, a bondade em pessoa,
com alguma comiseração.
Chorar é para maricas. – dizia seu pai, no seu tom
autoritário, sem nenhuma consideração.
Desde sempre fora assim: menino choramingão; rapaz de
lágrima fácil; homem sensível. E não é que às vezes dava um jeitaço! Já
outras... era terrível.
Havia mulheres que, por isso, o achavam encantador. Outras
porém, como Clarice - o seu grande amor (platónico, diga-se) – achavam que não
era normal tanta choraminguice; alguma disfuncionalidade deveria existir, então não seria normal,
neste tipo de coisas, o homem fingir? Toda a gente sabe que os homens escondem
aquilo que sentem e que são traidores e que mentem.
Já no mundo masculino, um mundo bem mais pragmático, era
tido como bera, mas que quando bem-disposto vê-lo chorar de rir era uma risota,
lá isso era.
Difícil viver-se assim - a luta uma constante: uma cabeça,
completamente no sítio, prática que só visto, que dizia que não podia chorar;
um coração, enorme de nascença, lamurioso por
contingência, teimoso em a contrariar – mas... enfim, as lágrimas
procuravam liberdade, não se seguravam nas pálpebras superiores, tinham vida
própria, não faziam favores. E rolavam, rebolavam, muitas vezes em catadupa, outras de uma forma
menos abrupta, docemente até, na face deste homem que teimava em chorar, por
tudo e por nada, e que não conseguia, ele próprio, perceber aquilo que é: um
homem de lágrima fácil? um menino sensível? um rapaz choramingão?; vá lá
saber-se a resposta a tão difícil questão.