quinta-feira, dezembro 26, 2013

O BRANCO QUENTE DA SAUDADE



Neva, intensa e brancamente, hoje. Vejo-a cair lentamente, tão suave, e sorrio. Adoravas neve, o frio imaculadamente gélido, pai.
Queres açúcar, perguntavas-me tu. Claro que sim, respondia eu, mas desse açúcar. Corre para cá. 
Amava estas nossas conversas, docemente quentes, pai. Fisicamente acabaram. Mas em mim, em mim viverão sempre. Afagando-me o coração, que sangra, fazendo-me sorrir.
Neva, intensa e brancamente, hoje.
Como é bela, simplesmente bela, a neve. Deliciosamente bela, qual algodão doce enrolado.
Tenho saudades, também da neve, pai.
E neva, mais ainda. Neva em mim, intensamente forte, adoçando-me a saudade. Quanta candura pai. Quanta saudade nessa candura, friamente bela, pai.
Hoje neva. E eu sorrio, lembrando-me carinhosamente de ti. 
Porque a saudade, mesmo nevando, também aquece.

Baseado em factos reais


terça-feira, outubro 29, 2013

HOJE

Hoje, pela primeira vez na minha vida, assisti a uma tentativa de reanimação por parte do corpo médico do INEM. Houve um acidente grave entre um carro e uma moto. Um homem deitado no chão, entubação, massagens cardíacas. Não resultou.
Hoje há um filho, talvez pai também, um marido ou namorado, que não vai chegar a casa. Porque houve um estúpido acidente.
Hoje fiquei impressionada. É que a vida, de facto, pode acabar num segundo. E tanto que fica por dizer... e tanto que fica por fazer...

sexta-feira, agosto 23, 2013

LUA ADVERSA

(foto minha na barragem da Estevaínha em Alfândega da Fé)

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles

quinta-feira, agosto 15, 2013

15 DE AGOSTO

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava,
Nem homens cortaram veias,
nem o sol escureceu,
nem houve estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha mãe...

José Régio

sexta-feira, julho 19, 2013

RETEMPERAR FORÇAS

Porque o corpo não é de ferro e a cabeça também precisa de descanso.

quinta-feira, junho 13, 2013

SANTOS POPULARES VIII

Hoje já é dia 13
Dia de Santo Antoninho
É uma data perfeita
Pr’animar este cantinho

Um bocado ao abandono
Mas porém nunca esquecido
Pois mesmo que eu não me lembrasse
Alguém me falou ao ouvido.

Minha querida Carla Abílio
Este ano haverá quadras, sim senhor
É que os Santos Populares
Adoram este louvor

Soltem por isso a veia poética
Que quem rima bem não é gago
E pra que sejamos muitos
Até no facebook publicito

sábado, março 30, 2013

CANSAÇO


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas - 
Essas e o que faz falta nelas eternamente - 
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: 
Porque amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço.

Álvaro de Campos

quarta-feira, março 27, 2013

PARABÉNS, AUXILIAR!



E passou mais um ano. Fraco em escrita, publicações e visitas. Mas o tempo é assim, não se padece com nada e simplesmente passa. Não que este ano não tenha tido coisas para partilhar. Eu é que tenho andado ausente de muita coisa, da própria vida até, algumas vezes. Mas como hoje ainda me disseram e já que somos todos de luas, pode ser que a lua mude.

terça-feira, março 19, 2013

DIA DO PAI

As flores que lhe deixei no domingo, não substituem, de forma alguma, o telefonema que hoje gostava de lhe ter feito. Mas prás flores ainda tenho um endereço. Para o telefonema, já não há receptor...

Um grande beijo Pai, aonde quer que esteja. Olhe por mim que eu ando a precisar.