Ainda o
despertador não tinha soado e já Alice estava de olhos abertos. No entanto,
confusamente, ainda não tinha percebido se estaria realmente acordada ou se
estaria a sonhar: pousada sob as suas mãos, inexplicavelmente, encontrava-se uma
pedra imensamente colorida, emitindo uma luz que parecia querer entrar-lhe
pelos olhos, esbugalhados, adentro: assustador e misterioso ao mesmo tempo,
qual caleidoscópio depositado no seu leito.
Na cabeça de
Alice, que ficara imóvel admirando aquele arco-íris compactado, pululavam perguntas
ensurdecedoras. Porém, à frente dos pontos de interrogação somente um vazio silencioso.
Se não estava a sonhar, a realidade estava muito, muito estranha…
Um tanto ou
quanto a custo, levantou-se e abriu a janela. A pedra, instantaneamente,
tornou-se ainda mais brilhante. Alice parecia hipnotizada. Olhou, mirou,
procurou, voltou a olhar e, quase sem dar por isso, estava a percorrer um
corredor de cores; cores fortes, quentes e inebriantes. Sentiu-se leve, livre, com
o coração a transbordar de felicidade. E foi no momento em que sentiu os pés a
deixarem o chão e as pontas dos dedos das mãos a tocarem o céu que, finalmente, percebeu: os seus sentimentos estavam condensados naquela pedra. Daí a cor, daí
o brilho, daí a luz. O que do seu coração transbordou, talvez por obra do
Espírito Santo, acabou por ser reunido naquela pedra.
Uma porta. Havia agora uma porta. Alice
abriu-a, entrou, e fechou-a nas suas costas.
Raul sabia que tinha chegado a hora. Olhou uma última vez o rosto inerte de Alice - queria guardar aquela imagem de paz relaxante para todo o sempre.
Agora sim, podiam , finalmente, fechar o caixão.