Este é o Pivete, até há pouco tempo o nosso cão. Normalmente o Pivete estava preso mas com um sistema que o permitia percorrer uma boa parte do quintal. Havia quem lhe tivesse medo porque ele ladrava imenso, mas tinha também muitos amigos. Eu, por exemplo! Sempre que vinha cá a casa divertia-me imenso com ele, a correr, a dar-lhe miminhos (que ele adora), até a falar com ele.
Mesmo preso, já tinha mordido algumas pessoas, aquelas que se metiam com ele de paus ou varas na mão, por lhe terem medo. Ele só deixava entrar em casa quem lhe conseguia escapar ou enganar, ou então os amigos, senão ladrava tanto que as pessoas lhe tinham medo.
O Pivete costumava avisar os vizinhos da hora em que o correio chegava. Mal sentia a carrinha dele, era um verdadeiro concerto! Acho que era a quem ladrava mais, depois de aos outros cães que andavam soltos. Tinha contudo uma namorada a quem permitia partilhar da sua marmita...
O meu pai costuma soltá-lo de vez em quando, o que ele adorava!!! Acabava por voltar sempre pra comer e pra dormir na sua caminha de palha que a minha mãe lhe fez.
Nessa semana que eu estive ausente, ele próprio conseguiu ficar preso com o seu cadeado numa rede. O meu pai ao tentar soltá-lo deixou-o escapar e lá foi ele à sua vidinha, rua acima, rua abaixo. Nesse dia mordeu uma senhora aqui à porta de casa. Não sei o que lhe fizeram para ele fazer isso, mas ouvi falar de umas pedradas... Como castigo, voltou a ser preso.
Na manhã seguinte não havia sinais do Pivete... o cadeado e a coleira estavam ao lado da sua cama mas o Pivete não estava lá a dormir.
Já passaram quase três semanas e o Pivete não voltou, nem para comer, nem para dormir.
Ninguém na aldeia viu o Pivete vivo ou morto nestes dias e nós já temos experiência com cães que morreram atropelados aqui na estrada e sempre soubemos e sempre alguém tratou de os enterrar. Ainda há pouco tempo a Milu, a cadela da minha irmã mais velha, que ela trouxe para cá porque deixou de ter condições de a ter em casa, morreu atropelada aqui à porta de casa. Não sei quem chorou mais , se a minha mãe, se o rapaz que a atropelou. O Presidente da Junta mandou enterrá-la por nós.
A minha mãe já disse que não quer mais cães, acabam por ter sempre um fim triste, normalmente debaixo de um carro. Mas esta situação com o Pivete é muito estranha! Onde estás tu Pivete, que te fizeram? Tenho saudades tuas.